quinta-feira, 29 de junho de 2006

Fornadas e aspiração

Durante todo o tempo tinha feito bolos. Maiores. Menores. Com e sem creme...assim como as bolas de berlim.
É verdade que por vezes havia biscoitos esturricados porque tinha perdido a mão, e o forno estava demasiadamente quente. Mas também tinha tirado fornadas de deliciar a plateia.

Controlavam-se com as palmas, pois os gourmets não se extasiam com bolos, bolinhos e bolachas. Faziam por aparentar serem verdadeiros degustadores, mas a verdade é que os apanhei umas quantas vezes (se calhar até demasiadas) a comer aquelas impressionantes piramides feitas de restos atrasdos de outros bolos.

Mas não me proponho aqui a apreciar o percurso destes...gourmets! Por isso, adiante!

No fundo, graças a antiguidade que trago nesta profissão e nesta vida, com a sabedoria que me deram as queimaduras já indisfarçáveis que se me notam nas mãos, reconhecia naqueles esgares verdadeiros "OHHH"s de admiração pela arte, paciência e técnica que eu apresentava ao transformar aqueles míseros recursos em algo comestível e de sabor verdadeiramente reconfortante.

Percebi que os meus bolos eram como ar que respiravam. Não me deixavam investir num forno novo, mas pediam mais e mais fornadas!

A vida de um pasteleiro é muito dificil, não julguem!

Um dia tive a ousadia de dizer: Quero fazer pão! Pão verdadeiramente saboroso! Perfumá-lo com ervas finas! Fazer pão de passas! Fazer algo que, para além da admirável quantidade e do enebriante cheiro, seja a sublime compilação do sabor e da simplicidade! O Pão!

Ora aqui é que eu ultrapassei a marca!! Não estaria demasiadamente avisado para saber que quem faz o pão são os deuses?! Que ousadia a minha! Quanto mais não fosse e com sorte, poderia ter a benesse de amassar arduamente aquela montanha de farinha-sal-água empurrada violentamente por um fermento que não deixa o tempo descansar.

Tu és um pasteleiro! Não (e nunca - vim a saber mais tarde ) serás um Nobre Padeiro!

quarta-feira, 28 de junho de 2006

no dia em que me saiu a sorte grande

Pois até perece mentira. Nunca fui dado a grandes sortes...não me posso queixar, pois a minha também não é pequena.
Andava eu aí de beiço caído, a pontapear as pedras da calçada, para ver se debaixo de alguma eu descobria a solução.
Meses e anos. A fio.Desfiando esse cordão de dias e noites incessantes.
Emagreci. Engordei. Fumava. Deixava de fumar.
Arquivei. Arrumei e desarrumei.
Sabia que me tinham tramado.