segunda-feira, 23 de junho de 2014

Na raíz das coisas

Uma árvore que bebe água ácida, contaminada;
que se rodeia de ervas daninhas;
por mais forte e frondosa que pareça, nunca dará frutos doces.
 

usar um machado

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terça-feira, 17 de junho de 2014

sequestro

Dei-me conta de um tumulto tumoral dentro de mim.
Não há operações, extracções ou outras acções de bisturi, manejado por réplicas do Dexter ou do Hannibal, que extrairiam aquele volume.

Numa forçada esperança recorro aos meus braços e golfejos de energia para conseguir expulsar esta vontade. Esta ânsia assassina. Suicida. Este terrorismo interior a que me submeto cada vez que pestanejo.
Mas como num ciclo verdadeiramente vicioso, entre a luta que alcança a sua meta, a revolução vê-se sempre reforçada. 

O ninho de abelhas passa a ter vespas, e o mel se transtorna num ferrão que não se distancia.
Iminente morte, deito-me com a deliciosa ternura da angustia. As almofadas desta cama são a luta e a superação, os lençóis o desejo e a tentação.

Suo. Molho-me e acordo morto de sede…
Doente? Pois sim!! Febril e preso.

Esta existência está sequestrada em cada canto da minha existência, e aquela existência é em si o sequestrador.

Não saí!  Não quero que me deixe. Sucumbo.

Esta existência que habita em mim cresce e regenera-se alimentando-se de si, e extinguindo a sua vida.
De uma clara e plácida aparência, tinha um suave pulsar. Uma existência que se dominava entre os dedos. 
Cresceu.
Por vezes assoma-se gigante dentro de mim, em cada janela e em cada espaço. A todas as horas. Invade artérias e veias, mistura os sangues e a saliva. É o negro ser. Monstruoso. Violento. Fascinante.

Quando não aguento mais, quando arreio à sua soberba, quando no negro e na sombra já cresce o lodo, quando o quero revestir de repulsa e afastar-me, curar-me, torna-se intumescido, brilhante, saudável e corado...pronto a dar-se.

Na delicia e ao sol quente de palavras genuínas esta arvore cresceu, floresceu e teve primaveras subtis. Passaram sob os seus ramos verões com cheiro a laranja e a sal.
Entre as folhas, como pequenas páginas de livros, poemas cantados no sopro da brisa, aparecia um céu azul, incandescente. 
Tomava-me de assalto e cegava-me. 
Sorri muito nesta pura brincadeira. 
Sorri na lembrança destes brilhos que entravam em mim. Esqueci-me de todas as sensações. Embalei-me e adormeci sob as suas folhas.
Um ramo ou outro partiram, mas a arvore não parou de envolver. 

A arvore não deixou de crescer e de enraizar-se.
 
Mas na sombra que sempre existe para o sol ser brilhante, estava a humidade do que não queria dizer. 
Esta humidade alimentava a arvore, as suas raízes, rega a existência para que viva mais, mais forte.
Queria que este espectro fosse repulsivo. Que me afastasse. Mas a sua viscosidade, tornou-se mais agarrada as paredes das vísceras que a repelem.

Tomou parte de mim. Tornou-se em mim.

Presente, é indelével no tempo e na memória.

Presencia tudo e corrói com a suposição da sua existência

domingo, 15 de junho de 2014

puro músculo

só os fortes podem ter ambições.

nadar na dificuldade de sair do curso de água ou escalar para não cair na avalanche obriga a esrforço.
nem sempre recompensado. nem sempre racional, válido, ou com razão de ser.
mas só os fortes, obstinados, preserverantes podem ter ambições. porque só esses aguentam.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Duro

A coragem é dura.
A liberdade é corajosa.
Ora, a liberdade é dura.

É preciso ter coragem para se viver em liberdade, em liberdade constante de viajar nos pensamentos, proferir palavras ou criar e manter omissões. A dureza de ser verdadeiro, ser único, ser louco tanto na profundidade como na frivolidade, é uma liberdade a que poucos tem coragem de aceder.

Houve quem visse uma quase perigosidade na maneira como vivo.
Num desprendimento, num sem amarrras.
Vivo de forma livre. Livre de pensar dentro de um mundo que nem quero saber se é só meu, livre para me cansar numa atençao redobrada a tudo e numa curiosidade atroz que não me deixa.
Invento.      Desinvento.
Questiono e até não quero ouvir respostas.

Mas esta forma perigosa nao me prende. E não me mata.
Não me prende porque não deixo. E naturalmente porque nao quero deixar.
Não me faz tremer ou vacilar. Cansa-me. Mas anima-me.
Porque é uma forma livre de ser. Deixar-me só ser. Assim.

É duro.

Já o sabia quando não sucumbi a facilidade de não ser livre. De me deixar ir apagando a existencia no meu mundo.
E reconheci essa dureza vezes infinitas. Na padaria e no barco. Na cozinha e na cama. No inverno e no verão.

Trago em mim essa estupidez perigosa de uma liberdade assumida.
Enrouqueço na liberdade de nao me prender à amarra da não verdade.
Gasto as palavras a dize-lo na defesa de não sucumbir. 
Ser verdadeiro é duro porque traz uma liberdade estupida.
Trago tambem na algibeira a liberdade que mostro. Quem por aqui se cruza sabe que sou livre. Quem aqui se cruzou não foi enganado. Houve quem ficasse à porta por saber ao que ia. 

Instável no pensamento, estável na convicção e no compromisso com as convicções.
Ser verdadeiro e ter a coragem de assumir perante os outros que se é livre, abrir-se a liberdade interna e mostrar-se o deesprendimento comprometido, é duro.
Nem é fácil de compreender, quanto mais de aceitar.
É duro.

No entanto sou um  livre que me enrrosco e entrelaço nos outros.Nos mundos alheios. Ceratmente levado por essa curiosidade que brota da atenção. Abro o meu tesouro de insanidades e sou permeável. Mostro. Ofereço-me em torno de mentes e ideias. Das minhas viagens e ensejos. Delicio-me na perdida certeza de me perder na minha liberdade e no entrelaçar. Entreguei a liberdade de ser livre, mas magicamente mantive-me tão livre como antes de cada entrega. Entregar é um acto igualmente livre. Corajoso.

Ser livre é duro e só.

Esse alguém que me viu a perigosidade quase libertina e psicotica, é livre.
Goza de uma liberdade hermética, fechada.
É - parece-me - igualmente duro e só.
Num mundo seu é tão livre como eu. É tão diferentemente livre, corajoso.
Não se entrelaça: tem a coragem de se assumir livre e conscientemente fechado.
Afasta qualquer entrelaço e desprende rapidamente e com uma perícia estrondosa todas as amarras que lhe lançam e todos os laços que o envolvem.
Essa liberdade é igualmente corajosa. E dura.

Porque ser-se só, é tão somente a forma de ser-se livre. De se ter a liberdade só de e para si.
Porque não ha livre-a-dois.

É só livre de forma louca quando nao permite nem entradas, mas verdadeiramente livre quando escolhe não ter saídas. Nada dali saí.
(para um curioso é um engodo que se desfere repetidamente como flecha em toda a carne)

Tem aquela liberdade corajosa e perigosa de ser-se e manter-se.
Intocável.
Visível, mas inabalável.
Visitável mas intransponível.
Como um castelo eregido num monte.
Não se entrega, mas todos o tomam por conquistado.

O seu segredo não é mostrado - porque assim o assume livremente - , com sorte são segredos algo descobertoa ou desconfiados. Sem ceretzas.

Mantem-se sozinho. Livre. Perigoso. Corajoso e suportando a dureza.
Zigzagueia com velocidade que o corpo lhe dá empurrado pela mente.
Pedala as ideias fazendo-as subir e mastiga-as na bolina com que percorre o mundo dos outros para que não o vejam.
É duro.
E sempre só. Na sua engendra veloz que não permite companhia. 

É totalmente livre.

...e quão mais perigoso que eu?


trapezistas


baloiçavam no ar, agitando o éter. Zumbiam, entrecortando as respirações absortas.

Nada mais se mantinha naquele infinito, debaixo da tela pintada de azul e fingida de abóboda celestial.
Eternos aqueles movimentos rápidos, delineavam os nossos olhares, conduziam as nossas mentes. Nada mais parecia existir com tamanha presença.
Aquela realidade única e vivida por tantos. uma maneira de administrar espanto era deter as mãos magicamente soltas entre os saltos.


Algo único. Inquestionável.
zummm-zummmm...E baloiçavam no ar os trapezistas daquele circo.
Esse circo que nos preenchia e onde vivíamos essa vida que achamos plena, mas sabemos reduzida. Sabemos que lá fora há mais, que existe mundo atras dessas portas de oleado pesado em que nos achamos exclusivos...

Aquele baloiçar seguro em cordas finas, similares a pressupostos plenos, mundanos, reais, absolutos...

Aquele baloiçar pendia levemente no ar, mas de forma tão sustentada que parecia inabalável. Tão seguro que inquestionável.

Os trapezistas guiavam-nos nesta vida.

Os trapezistas revezam-se em malabarismos, nuances da sua actuação e existência.
E condicionavam a nossa a existência nesses minutos e horas em que apenas neles nos fitávamos; que sob eles vivíamos, religiosamente. sagrada e obedientemente.


Os trapezistas caíram. Soltaram-se da mão. Desagarraram-se.

Um caiu desamparadamente na rede, e vimo-lo como um pedaço de carne sem valor e beleza. nos segundos da queda perdeu a magia e o absolutismo.

O outro, do alto, pendia fragilmente do trapézio rasgado, periclitante.

Agora olhávamos com desdém não a abóboda, mas a arena onde tudo se passa; essa arena de pó, quase lodo, onde todos os passos se revelam. Desmascarávamos essa quietude zumbida, para ver a massa humana arrastar-se nessa humilhante perda da grandiosidade, da verdade fingida e sustentada por tempos incontáveis.

Afinal . . não eram mais que nós.
nessa terra que cobre o chão, nesse pó fino que sob todos emerge, passaram ao que sempre foram: partes.
Saímos dessa realidade a que chamamos vida, esssa existencia comandada, quase fingida, absorta, quase vazia.
E voltamos ao mundano mas magnifico ser da descoberta. do caminhar à deriva, com a nossa mente e sem artifícios que nos toldam.

as verdades são como trapezistas.

Regressar sem regresso

Tinha escrito em 2012,e houvera prometido recatadamente e em contrariedade nao voltar aqui.
mas os textos estão feitos. Recatadamente corajosos e negros. Só meus. Somente partilhados num acto de coragem cobarde. a quem corrompi.
E de forma quase muda, mas certamente recatada aqui estou.

Voltei.